IC (Insuficiência Cardíaca)

Incidência e prevalência da IC

A IC afeta mais de 23 milhões de pessoas no mundo,1 com sobrevida após cinco anos de seu diagnóstico de apenas 35%, com prevalência que se eleva conforme aumenta a faixa etária. A mortalidade tardia (um ano) nos portadores de IC crônica, classificados pela fração de ejeção, é maior nos portadores da ICFEr (8,8%), seguida da ICFEi (7,6%) e da ICFEp (6,3%).2

No Brasil, dados do registro BREATHE (Brazilian Registry of Acute Heart Failure)3 mostraram como principal causa de re-hospitalizações a má aderência à terapêutica básica para IC, além de elevada taxa de mortalidade intra-hospitalar, posicionando o Brasil como uma das mais elevadas taxas no mundo ocidental. Nosso país ainda apresenta controle inadequado de hipertensão arterial e diabetes, e a persistência de doenças negligenciadas está entre causas frequentes da IC.

Sintomas, identificação e tratamento precoce da IC

Os sinais e sintomas da IC decorrem do baixo débito cardíaco e/ou de congestão pulmonar ou sistêmica, podendo ocorrer em repouso ou aos esforços. Na tabela 1, estão descritos os sintomas e sinais da IC.4

Sintomas, identificação e tratamento precoce da IC tabela 1

Algumas estratégias são importantes na prevenção e tratamento precoce da IC. Entre elas, nas fases iniciais (com fatores de risco e sem alteração na função e estrutura cardíacas), citam-se a interrupção do tabagismo, a redução excessiva da ingestão de bebidas alcoólicas, o tratamento da hipertensão arterial com meta pressórica de PAS (pressão arterial sistólica) <120 mmHg para hipertensos com elevado risco cardiovascular, o uso de estatinas para pacientes com doença arterial coronária ou elevado risco cardiovascular e o uso de empagliflozina em diabéticos.4-8 Em fases mais avançadas, ainda sem sintomas e sinais de IC, mas com alteração na estrutura e na função cardíacas, recomenda-se o uso de inibidor da enzima de conversão da angiotensina (IECA) na disfunção do VE assintomática de etiologia isquêmica ou não, de betabloqueador (BB) em adição ao IECA na disfunção do VE assintomática de etiologia isquêmica ou não e de antagonista mineralocorticoide em pacientes pós-infarto com disfunção do VE (FEVE <40%) e diabetes.4,9-12

Diagnóstico

O exame de imagem de primeira escolha para o diagnóstico e seguimento da IC é o ecocardiograma transtorácico. Ele fornece dados importantes, tais como a avaliação da função ventricular sistólica esquerda e direita, da função diastólica, das espessuras parietais, do tamanho das cavidades, da função valvar, da estimativa hemodinâmica não invasiva e das doenças do pericárdio.8

Quanto aos biomarcadores, os peptídeos natriuréticos BNP13 e NT-proBNP14 têm papel bem estabelecido no diagnóstico de IC, tanto na sala de emergência quanto em pacientes com IC crônica.15 Todavia, existem algumas limitações do seu uso em algumas situações clínicas, pois esses biomarcadores podem elevar-se na presença de anemia,16 insuficiência renal crônica17 e idade avançada,18 e apresentar níveis mais baixos na obesidade.19 Os peptídeos natriuréticos têm demonstrado papel prognóstico na IC20 e contribuem quando há dúvidas no diagnóstico.

Os peptídeos natriuréticos são importantes também na ICFEp. Embora se postule que sua dosagem seja incluída como critério diagnóstico de ICFEp2, os valores podem sofrer influência de comorbidades frequentes em portadores de ICFEp, como anemia, idade avançada e insuficiência renal, mas, quando apresenta níveis elevados, esses estão associados a pior prognóstico, com maior mortalidade ou hospitalização por IC.21

Referências

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