A empagliflozina é associada à redução da albuminúria em pacientes com IC?1

Outubro, 2023

 

Leia ou ouça este conteúdo

Arquivo de áudio

Introdução

A albuminúria, comumente avaliada pela relação albumina/creatinina na urina (RACU), é considerada um indicador de dano estrutural da barreira de filtração glomerular2,3 e está associada a eventos cardiovasculares como insuficiência cardíaca (IC) e morte cardiovascular, além de progressão da doença renal crônica (DRC).4-9

Algumas drogas como os inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECAs), os bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRAs), os antagonistas dos receptores de mineralocorticoides (ARMs) e os inibidores de SGLT2 (iSGLT2) demonstraram efeitos benéficos sobre a redução da albuminúria e/ou redução da progressão para macroalbuminúria.10-21

Nesta análise post hoc, foi estudada a associação da empagliflozina com os níveis basais de albuminúria e mudanças na albuminúria em pacientes com IC em uma ampla faixa de fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE), utilizando dados do EMPEROR-Pooled.22

Desenho do Estudo

EMPEROR-Pooled combinou dados do EMPEROR-Reduced e do EMPEROR-Preserved, estudos multicêntricos internacionais, randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo que incluíram pacientes adultos com IC crônica, classe II a IV da New York Heart Association (NYHA), em uma ampla faixa de FEVE, sendo ≤40% no EMPEROR-Reduced23 e >40% no EMPEROR-Preserved.24

A albuminúria foi avaliada pela RACU na randomização e nas visitas subsequentes e definida como normoalbuminúria se <30 mg/g, microalbuminúria se entre 30 e 300 mg/g e macroalbuminúria se >300 mg/g.

O desfecho primário foi composto por morte cardiovascular ou hospitalização por IC. Adicionalmente, avaliou-se morte cardiovascular e por todas as causas, hospitalização por IC, desfechos renais compostos e mudança anual do slope da taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) em relação aos níveis basais da RACU. Na análise post hoc, foi estudada a associação da empagliflozina a mudanças na albuminúria utilizando os critérios de progressão para macroalbuminúria em pacientes sem macroalbuminúria no início do estudo e remissão para microalbuminúria ou normoalbuminúria em pacientes com macroalbuminúria no início do estudo. Também foram estudadas mudanças na RACU ao longo do tempo na coorte geral e em subgrupos conforme a RACU e a presença de diabetes, além do perfil de segurança conforme a RACU.

Resultados

Foram incluídos 9.673 pacientes (idade média [DP], 69,9 [10,4] anos; 3.551 [36,7%] do sexo feminino e 6.122 [63,3%] do sexo masculino), entre os quais 5.552 apresentavam normoalbuminúria e 1.025 macroalbuminúria.

Em comparação com a normoalbuminúria, a macroalbuminúria foi associada à idade mais jovem, raça não branca, obesidade, sexo masculino, regiões fora da Europa, níveis mais altos de peptídeo natriurético tipo B e troponina T de alta sensibilidade, pressão arterial mais elevada, maior classe da NYHA, maior tempo de duração da IC, internações prévias mais frequentes por IC, diabetes, hipertensão, TFGe mais baixas e menor frequência de uso de IECAs, BRAs e ARMs.

Foi observado maior número de eventos em indivíduos com níveis mais elevados da RACU. A associação de empagliflozina com mortalidade cardiovascular ou hospitalização por IC foi consistente nas categorias da RACU, hazard ratio [HR], 0,80; IC 95%, 0,69-0,92 para normoalbuminúria; HR, 0,74; IC 95%, 0,63-0,86 para microalbuminúria; HR, 0,78; IC 95%, 0,63-0,98 para macroalbuminúria; interação p=0,71).

A empagliflozina foi associada a menor incidência de nova macroalbuminúria (HR, 0,81; IC 95%, 0,70-0,94; p=0,005) e aumento na taxa de remissão para normoalbuminúria sustentada ou microalbuminúria (HR, 1,31; IC 95%, 1,07-1,59; p=0,009), mas não com redução da RACU na população geral. No entanto, a RACU foi reduzida em pacientes com diabetes que apresentavam níveis mais altos da RACU do que pacientes sem diabetes (média geométrica para diabetes no início do estudo, 0,91; IC 95%, 0,85-0,98 e para sem diabetes no início do estudo, 1,08; IC 95%, 1,01-1,16; interação p=0,008).

Conclusões

A empagliflozina foi associada à redução de hospitalizações por IC ou morte cardiovascular, independentemente dos níveis de albuminúria. Além disso, foi associada a redução da progressão para macroalbuminúria e aumento da reversão da macroalbuminúria.

Referências
  • 1.
    Ferreira JP, et al. Association of Empagliflozin Treatment With Albuminuria Levels in Patients With Heart Failure: A Secondary Analysis of EMPEROR-Pooled. JAMA Cardiol. 2022 Nov 1;7(11):1148-1159.
  • 2.
    Satchell S. The role of the glomerular endothelium in albumin handling. Nat Rev Nephrol. 2013;9(12):717-725.
  • 3.
    Korakas E, et al. The endotelial glycocalyx as a key mediator of albumin handling and the development of diabetic nephropathy. Curr Vasc Pharmacol. 2020;18(6):619-631.
  • 4.
    Gerstein HC, et al. Albuminuria and risk of cardiovascular events, death, and heart failure in diabetic and nondiabetic individuals.JAMA. 2001;286(4):421-426.
  • 5.
    Blecker S, et al. High-normal albuminuria and risk of heart failure in the community. Am J Kidney Dis. 2011;58(1):47-55.
  • 6.
    Mogensen CE. Microalbuminuria predicts clinical proteinuria and early mortality in maturity-onset diabetes. N Engl J Med. 1984;310(6):356-360.
  • 7.
    Ibsen H, et al. Albuminuria and cardiovascular risk in hypertensive patients with left ventricular hypertrophy: the LIFE Study. Kidney Int Suppl. 2004;(92):S56-S58.
  • 8.
    Solomon SD, et al. Influence of albuminuria on cardiovascular risk in patients with stable coronary artery disease. Circulation. 2007;116(23):2687-2693.
  • 9.
    Persson F, et al. Changes in albuminuria predict cardiovascular and renal outcomes in type 2 diabetes: a post hoc analysis of the LEADER trial. Diabetes Care. 2021;44(4):1020-1026.
  • 10.
     Heeg JE, et al. Reduction of proteinuria by angiotensin converting enzyme inhibition. Kidney Int. 1987;32(1):78-83.
  • 11.
     Viberti G, et al. Effect of captopril on progression to clinical proteinuria in patients with insulin-dependente diabetes mellitus and microalbuminuria. JAMA. 1994;271(4):275-279.
  • 12.
     Parving HH, et al. The effect of irbesartan on the development of diabetic nephropathy in patients with type 2 diabetes. N Engl J Med. 2001;345(12):870-878.
  • 13.
      Davidson Mbet al. Effect of spironolactone therapy on albuminuria in patients with type 2 diabetes treated with angiotensin-converting enzyme inhibitors. Endocr Pract. 2008;14(8):985-992.
  • 14.
     Selvaraj S, et al. Prognostic value of albuminuria and influence of spironolactone in heart failure with preserved ejection fraction. Circ Heart Fail. 2018;11(11):e005288.
  • 15.
     Epstein M, et al. Selective aldosterone blockade with eplerenone reduces albuminuria in patients with type 2 diabetes. Clin J Am Soc Nephrol. 2006;1(5):940-951.
  • 16.
     Bakris GL, et al. Effect of finerenone on albuminuria in patients with diabetic nephropathy: a randomized clinical trial. JAMA. 2015;314(9):884-894.
  • 17.
     Pitt B, et al. Safety and tolerability of the novel non-steroidal mineralocorticoid receptor antagonist BAY94-8862 in patients with chronic heart failure and mild or moderate chronic kidney disease:a randomized, double-blind trial. Eur Heart J. 2013;34(31):2453-2463.
  • 18.
     Bae JH, et al. Effects of sodium-glucose cotransporter 2 inhibitors on renal outcomes in patients with type 2 diabetes: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Sci Rep. 2019;9(1):13009.
  • 19.
     Heerspink HJ, et al. Dapagliflozin reduces albuminuria in patients with diabetes and hypertension receiving renin-angiotensin blockers. Diabetes Obes Metab. 2016;18(6):590-597.
  • 20.
     Jongs N, et al. Effect of dapagliflozin on urinary albumin excretion in patients with chronic kidney disease with and without type 2 diabetes: a prespecified analysis from the DAPA-CKD trial. Lancet Diabetes Endocrinol. 2021;9(11):755-766.
  • 21.
     Cherney DZI, et al. Effects of empagliflozin on the urinary albumin-to-creatinine ratio in patients with type 2 diabetes and established cardiovascular disease: an exploratory analysis from the EMPA-REG OUTCOME randomised, placebo-controlled trial. Lancet Diabetes Endocrinol. 2017;5(8):610-621.
  • 22.
     Packer M, et al. Design of a prospective patient-level pooled analysis of two parallel trials of empagliflozin in patients with established heart failure. Eur J Heart Fail. 2020;22(12):2393-2398.
  • 23.
     Packer M, et al. Cardiovascular and renal outcomes with empagliflozin in heart failure. N Engl J Med. 2020;383(15):1413-1424.
  • 24.
     Anker SD, et al. Empagliflozin in heart failure with a preserved ejection fraction. N Engl J Med. 2021;385(16):1451-1461.

Material destinado exclusivamente a profissionais de saúde habilitados a prescrever e/ou dispensar medicamentos.

SC-BR-06616