A empagliflozina pode retardar a progressão da doença renal em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção do ventrículo esquerdo preservada?1

Outubro, 2023

 

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Introdução

Ensaios clínicos randomizados demonstraram que os inibidores de SGLT2 (iSGLT2) estão associados à redução do risco de hospitalização por insuficiência cardíaca (IC) e menor declínio da função renal em indivíduos com diabetes tipo 2 (DM2)2-9 e IC com fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) reduzida.10,11 Todavia, as opções terapêuticas para indivíduos com IC e FEVE preservada eram limitadas.12       

Posteriormente, a publicação do estudo EMPEROR-Preserved evidenciou a associação da empagliflozina à menor ocorrência de eventos cardiovasculares e ao menor declínio da função renal em comparação com o placebo nos indivíduos com IC e FEVE preservada.13 Considerando que a DRC está presente em até 50% dos pacientes com IC e FEVE preservada14-16 e que o declínio da função renal está relacionado ao pior prognóstico desta condição15-16, esta análise pré-especificada do estudo EMPEROR-Preserved tem como objetivo estudar o efeito da empagliflozina em desfechos cardiovasculares e renais em todo o espectro da função renal, uma vez que mais da metade dos indivíduos incluídos no estudo apresentava DRC.1

Desenho do Estudo

O estudo EMPEROR-Preserved foi um ensaio clínico duplo-cego e controlado por placebo. Foram randomizados 5988 pacientes com IC sintomática (classe ≥II da New York Heart Association [NYHA]) e FEVE >40% para receber empagliflozina (10 mg, via oral, uma vez ao dia) ou placebo com acompanhamento médio foi de 26,2 meses. Os pacientes foram categorizados pela presença ou ausência de DRC no início do estudo, definida por taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) <60 ml/min/1,73 m2 ou relação albumina-creatinina urinária (RACU) >300 mg/g.

O desfecho primário foi o tempo até o primeiro evento de morte cardiovascular comprovada ou hospitalização por IC. Os desfechos secundários incluíram todas as hospitalizações comprovadas por IC e a taxa de declínio na TFGe durante o tratamento. Além do mais, foram exploradas definições alternativas para o desfecho renal, incluindo um declínio sustentado ≥40% na TFGe, diálise crônica ou transplante renal. 

Resultados

Entre os participantes, 3198 (53,5%) tinham DRC no início do estudo. Esses pacientes eram mais velhos, tinham maior tempo de duração de IC, maior probabilidade de hospitalização por IC nos últimos 12 meses, maior prevalência de diabetes, menor TFGe média (46,3 vs. 77,1 ml/min/1,73 m2) e maior RACU mediana (32 vs. 15 mg/g). 

Independentemente do status de DRC, a empagliflozina reduziu o desfecho primário, um composto de morte cardiovascular ou primeira hospitalização por IC (com DRC: HR 0,80, IC 95% 0,69–0,94; sem DRC: HR 0,75, IC 95% 0,60–0,95; p de interação=0,67). Além disso, a empagliflozina reduziu as hospitalizações totais por IC em pacientes com DRC (HR 0,68, IC 95% 0,54–0,86) e sem DRC (HR 0,89, IC 95% 0,66–1,21), p de interação=0,17. A taxa de declínio da TFGe diminuiu com a empagliflozina em pacientes com DRC (1,43 ml/min/1,73 m2/ano, IC 95% 1,01–1,85) e sem DRC (1,31 ml/min/1,73 m2/ano, IC 95% 0,88–1,74), p de interação=0,70. O desfecho renal pré-especificado não foi reduzido, mas a progressão para macroalbuminúria foi retardada e o risco de lesão renal aguda diminuiu nos pacientes que receberam empagliflozina, independentemente da função renal. 

Pacientes com DRC apresentaram maior probabilidade de eventos adversos, mas a empagliflozina foi bem tolerada e as frequências de eventos adversos foram semelhantes entre os grupos empagliflozina e placebo, independentemente do status de DRC.

Conclusões

No estudo EMPEROR-Preserved, a empagliflozina demonstrou reduzir desfechos cardiovasculares e retardar a progressão da doença renal em pacientes com IC e FEVE preservada, independentemente da presença de DRC. Esses resultados, combinados a um perfil de segurança bem tolerado, reforçam o potencial terapêutico da empagliflozina para uma população de pacientes com IC e amplo espectro de função renal.

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